quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Consequência


A grande consequência de Bissau foi a mudança na minha vida em Portugal.

"Hoje" termina um ano e começa outro (La Palisse!). Com o fim do velho, ficam para trás supostas amizades, fica um ponto final na vida a.B. (antes de Bissau). Estou finalmente livre de tudo o que a ela negativamente me ligava. A vida d.B. é sinónimo de alegria, felicidade, boa disposição e novas amizades. É também uma vida onde não entrarão os que por livre vontade saíram. A esses um até nunca. Aos amigos um até já!

VIVA 2009!
Viva a amizade verdadeira!
Fica aqui um beijinho especial para a
Nela, o Quim, a Sara, o Mingos
(obrigada por serem diferentes!)

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Um 2009 de sonho

A ler...

domingo, 28 de dezembro de 2008

O PÁSSARO SOLITÁRIO


Do alto da torre antiga,
ó pássaro solitário, para o campo
voas cantando até que o dia morre;
E a harmonia erra por este vale.
Em torno a primavera
brilha no ar e exulta pelos campos,
tanto que ao vê-la o coração se enternece.
Ouve-se o balir dos rebanhos, o mugir do gado;
alegres, as outras aves, à compita,
pelo céu livre fazem mil rodeios,
festejando o seu melhor tempo:
tu, pensativo, olhas de lado tudo;
nem companheiros, nem voos,
não te importa a alegria, evitas os folguedos.
Cantas, e assim passa
da tua vida e do ano
a mais bela flor.

Oh, como se parece
ao teu o meu viver! Divertimento e riso,
da tenra idade doce família,
e de ti, irmão da juventude, amor,
suspiro amargo dos passados dias,
não curo, não sei porquê; ou antes, deles
como que fujo para longe;
como um eremita e estranho
ao meu lugar de nascimento,
da minha vida passo a primavera.
Este dia, que já cede à noite
é costume a nossa aldeia festejá-lo.
Ouve-se pelo sereno o som dum sino,
ouve-se mesmo o troar de fuzis,
que ribombando vai de casa em casa.
Festivamente vestida,
a juventude do lugar
deixa as casas e pelas ruas se expande;
olha e é olhada, e em seu coração se alegra.

Eu, solitário, afastando-me
para este remoto lugar do campo,
todo o prazer e jogo
adio para outro tempo: e entretanto o olhar
estendido pelo ar luminoso
me fere o Sol, que entre longínquos montes,
depois do dia sereno,
ao declinar se dissipa e parece dizer
que assim desfalece a alegre juventude.

Tu, pássaro solitário, chegado ao fim
do tempo de vida que os astros te concedem
da tua existência
não te queixarás; que da natureza é fruto
cada desejo teu.
A mim, se da velhice
o aborrecido limiar evitar não consigo,
quando aos outros estes olhos já não inspirarem sentimentos
e vazio se lhes torne o mundo e o futuro
mais enfadonho e negro que o presente,
que me parecerá de tal desejo?
E destes anos meus? E de mim próprio?
Oh! arrepender-me-ei, e muitas vezes,
mas inconsolável, voltar-me-ei para trás!"

Giacomo Leopardi (trad de Albano Martins)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Rosas


Não quero rosas, desde que haja rosas.
Quero-as só quando não as possa haver.
Que hei-de fazer das coisas
Que qualquer mão pode colher?

Não quero a noite senão quando a aurora
A fez em ouro e azul se diluir.
O que a minha alma ignora
É isso que quero possuir.

Para quê?... Se o soubesse, não faria
Versos para dizer que inda o não sei.
Tenho a alma pobre e fria...
Ah, com que esmola a aquecerei?...

Fernando Pessoa

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Natal, férias, alegria...


Para todos aqueles que eu não vir até dia 24, um Bom Natal.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Já chegam amanhã :)



Tenho saudades de muitos dos momentos vividos juntos, sobretudo saudade da lealdade, da companhia, da amizade verdadeira, desinteressada e da presença constante.

Voltem depressa e bem, que eu cá estarei à vossa espera, ansiosa por vos ouvir, ansiosa para receber tudo o que me trazem daí: o calor da amizade, as notícias dos meus que lá ficaram (não me sai da cabeça o pessoal da TGB e os nossos meninos das Oficinas), a cor...


Tenho de lá voltar...



Bom Natal!!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Boa viagem


Beijinhos para o meu pessoal de Bissau!

Boa viagem.

Temos de nos encontrar durante as (curtas e merecidas) férias.

Preciso de férias

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Balada de Neve



Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
. Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho…

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança…

E descalcinhos, doridos…
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!…

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.

Augusto Gil

domingo, 7 de dezembro de 2008

Hoje de manhã saí muito cedo

Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...

Não sabia que caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.

Assim tem sido sempre a minha vida, e
Assim quero que possa ser sempre --
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.

Alberto Caeiro

Nós por cá...


Movimento Perpétuo Associativo
Deolinda


Agora sim, damos a volta a isto!
Agora sim, há pernas para andar!
Agora sim, eu sinto o optimismo!
Vamos em frente, ninguém nos vai parar!

Agora não, que é hora do almoço...
Agora não, que é hora do jantar...
Agora não, que eu acho que não posso...
Amanhã vou trabalhar...

Agora sim, temos a força toda!
Agora sim, há fé neste querer!
Agora sim, só vejo gente boa!
Vamos em frente e havemos vencer!

Agora não, que me dói a barriga...
Agora não, dizem que vai chover...
Agora não, que joga o Benfica...
e eu tenho mais que fazer...

Agora sim, cantamos com vontade!
Agora sim, eu sinto a união!
Agora sim, já ouço a liberdade!
Vamos em frente, é esta a direcção!

Agora não, que falta um impresso...
Agora não, que o meu pai não quer...
Agora não, que há engarrafamentos...
Vão sem mim, que eu vou lá ter...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Neve


Também eu queria ter ido brincar na neve.

Carta ao Pai Natal

Senhor Pai Natal
Como diz o meu amigo que mora na torre
em frente à minha barraca do bairro de lata onde vivo
quero pedir-te que transmitas lá no céu
como vou passar o Natal com a minha mãe.

Tenho dez anos e nunca tive um brinquedo
a não ser daqueles que nós fazemos com arame,
carros com rodas e tudo e volante.
Desde que cheguei de Cabo Verde que moro aqui
nesta casa de madeira sem luz, sem água
e só a Lua acende as ruas estreitas, tão estreitas
que chego a bater nas casas com os cotovelos.

Nunca fui à escola e não sei ler nem escrever
por isso pedi ao meu amigo menino para fazeruma carta.
é tão estranho a caneta dele desliza
sinais no papel das coisas que eu digo
que édifícil acreditar que as minhas palavras ali estão.

Às vezes espreito pela grade da escola que fica
ali perto e vou ver os meninos no recreio a brincar
quando a minha mãe diz para ir comprar pão
no senhor inácio porque o dinheiro eu conheço
dez vinte cinquenta as moedas e as notas.

Senhor Pai Natal, eu só queria... olha, já disse
que não quero brinquedos, não me importo
mas diz a Deus para dar um homem à minha mãe;
ela queixa-se muito, passa a vida a dizer que
a casa precisa é de um homem, principalmente
quando o meu irmão de dezoito se pica nos braços
e fica para ali parece um morto mas quando acorda
começa a partir as coisas que restam. Por isso
é que nós não temos prateleiras para pôr as panelas
fica tudo no chão a monte. Há dias deitou abaixo
a porta da casa e dormimos toda a noite com os cães
da rua a entrar e a sair. eu quase não dormi porque tive
de enxotar os cães que iam lamber as pernas
ao meu irmão e à minha mãe. foi engraçado.

Ah, sabes, neste bairro que não é bairro
não vem a camioneta buscar o lixo
o carro que vem é a carroça dos cães para os levar
não fazem mal a ninguém mas eles dizem que são vadios
os cães têm dono mas eles não querem saber
e dizem que são nossos amigos, os cães.

Vem também um senhor padre dizer
para irmos à missa rezar
mas a minha mãe e eu não temos tempo
é preciso ir buscar água a uma torneira
que uma senhora pôs
no quintal para a gente. é quando
vou à água que eu vou brincar para a lixeira
e às vezes trago uma lanterna velha
um secador
que trabalha mas a minha mãe não precisa dele
porque tem o cabelo curto e é carapinha.

Vou dizer ao meu amigo para ler esta carta em voz alta
para saber se ele não se esqueceu de alguma coisa
até porque a minha mãe está a chamar-me para
pôr uma bacia a apanhar a água que está a cair
em cima da cama. Está a chover muito e é sempre
assim é quando a mãe canta «sodade di nha crecheu»

Agora lembrei-me: tu que és o Pai Natal,
o mensageiro de Deus e portanto sabes onde
está tudo porque vais dar as prendas a toda a gente
quando passares por cima da minha casa com o teu
carro de madeira puxado por aqueles animais que têm cornos
e parecem árvores, no dia de Natal faz-me só um sinal
um sinal só para mim, só para mim.
e não te esqueças: lembra-te da minha mãe.

Autor desconhecido